Sem dúvidas, estamos num momento crítico e por que não dizer, até decisivo para alguns pequenos empresários ou médios de mentalidade frágil em relação à liderança.
Uma frase de Heráclito de Éfeso, diz que “A única constante é a mudança”; brasileiros que o digam!
Estamos num país instável, cujas leis, regras fiscais e trabalhistas são cíclicas, mudam constantemente, à medida que a estratégia de seus governantes muda; dá-lhe jogo de cintura pra se segurar na corda-bamba do sistema financeiro-econômico-fiscal-trabalhista, ufa!
Na atual crise gerada pela COVID-19, que está mais pra queda-de-braço entre gigantes, conflitos de interesses entre mercados, choque de egos e autoridades, em paralelo, algo muito sério está acontecendo com o pequeno e médio empresário, dada ordem de quarentena forçada que muitos foram obrigados a aderir e até fechar seus negócios.
Parece um tanto irônico que num mundo globalizado, cuja tecnologia básica é acessível a crianças de 5 anos de idade (sendo conservadora aqui); as empresas precisem ceder às pressões insanas até certo ponto, em nome da prevenção que não pode ser garantida 100% com as medidas de contenção até aqui adotadas.
Não quero banalizar os efeitos desta crise, mas trazer uma reflexão sobre modelos rígidos e controladores X liberais e participativos no modelo de gestão;
Quem sofre mais ou quem perde mais, dentro deste contexto de quarentena? Como mitigar os impactos desta puxada de freio em diversos setores?
Por outro lado, é interessante percebermos que empresas com processos mais enxutos e coerentes, cujas lideranças exercem melhores controles sobre suas equipes a partir de um modelo mais liberal ou participativo, saem na frente; haja visto que estes modelos exigem não somente um bom nível de engajamento por parte das equipes, mas principalmente um controle sobre resultados tendo menor interferência na execução por parte de seu líder.
Por que muitas empresas não adotam o modelo de trabalho home office, ou trabalho em casa, quando suas atividades não implicam em recursos mais elaborados?
Por que muitos preferem demitir a monitorar entregas à distância?
Percebo que apesar da facilidade de roteamento de telefones, celulares corporativos, videoconferências, relatórios e sistemas online, salvar banco de dados na nuvem, acessos remotos, enfim, acessibilidade a um click; a modalidade home office, parece um tanto utópica para muitos gestores e empresários.
Percebemos, então, que existem outras dificuldades que estão além do aparato tecnológico necessário para o Home Office; isto diz respeito ao controle, muitas vezes, excesso dele, com foco errado;
Muitos gestores tem ao alcance de suas vistas, acesso remoto às câmaras de vigilância que não monitoram especificamente os acessos de segurança da empresa, antes, é para saber se suas equipes estão trabalhando, sentados em suas mesas ou borboleteando no cafezinho; quantas vezes a “Maria” se levantou da mesa, se “Joaquina” está acessando o celular durante o expediente de trabalho e por aí vai.
Ou seja, este recurso serve apenas para criar um BBB na empresa com direito a enquadramento e paredão, ao final do expediente com provas inquestionáveis de que o gestor está falando com propriedade.
Lamentável que este gestor tão empenhado em controlar sua equipe, não tenha pensado em aumentar o engajamento e autonomia de seu time por meio de treinamento e processos que lhe assegurem resultados melhores e uma performance desafiadora de seus subordinados.
Ao se deparar com a necessidade de liberar sua equipe para o Home Office, teria uma preocupação em determinar as novas variantes e alinhamentos necessários para as entregas preestabelecidas, e por que não dizer, usuais, costumeiras conforme cronograma.
Tive a oportunidade de trabalhar em times operacionais, técnicos e de alta performance, sem dúvida, é muito mais desafiador para o gestor manter equipes de alta performance do que equipes operacionais; isto porque a alta performance é resultante de uma via de mão dupla, tanto o profissional é submetido a desafios constantes e muito treinamento, quanto de quebra está envolvido num processo de confiança mutua, cujo gestor cobra e é cobrado por resultados efetivos e diários;
O profissional de alta performance não estará só, se algo der errado e fará o possível para dar todo o retorno da confiança e treinamentos nele investidos; este profissional é consciente, mas como chegar neste nível sem treinamento? Sem aproximação? Sem testar os limites ou fazê-los saber quais são?
Então, como Consultora, percebo que muitos líderes querem pessoas prontas, altamente qualificadas, maduras, engajadas, que não demande mais que uma semana de treino para abraçar suas atividades e gerar resultados;
por outro lado, ainda que o candidato lhe coubesse como uma luva para a vaga proposta, se não houver treinamento, processo, avaliação, relação de confiança, troca, desafios para ambas as partes, sua liderança é frágil.
Os modelos ultrapassados, mais rígidos, com excesso de controle sobre um comportamento condicionado e reverente, para profissionais que fecham os olhos para modelos equivocados e ultrapassados de gestão, onde não cabe questionar, avaliar em conjunto, repensar estratégias, agir, compartilhar responsabilidades e resultados, são fortes candidatos ao fracasso em meio à crise.